Sob uma cúpula, como uma grande semiesfera emborcada sobre sua cabeça, você vê uma miríade de corpos celestes num céu extraordinariamente limpo, sem nuvens – e pode até “se aproximar” de alguns deles, observando em detalhes que você nem imaginava que existiam. E não. Você não está olhando através de um telescópio.
Muitos planetários, assim como os observatórios, se caracterizam externamente pela cúpula, mas, note bem, a dos planetários não se abre para o céu. O espetáculo todo acontece lá dentro.
No interior de um planetário muitas vezes também há um instrumento complexo, situado bem no meio daquela sala circular. Mas nos planetários a cúpula inteira age como uma tela de projeção.
E ao contrário do observatório, quer chova lá fora ou não, o planetário funciona, mostrando uma simulação do céu noturno. E não é uma simulação qualquer. Um planetário também age como uma máquina do tempo, permitindo acelerar ou atrasar os ponteiros do relógio, fazendo com que minutos, horas ou anos passem muito rápido. Também pode fazer você se sentir numa grande nave, que o leva a ver o céu de diferentes lugares da Terra – ou do espaço sideral.
Por que Astronomia?
Os planetários fazem uso da Astronomia para divulgar ciência. Por que Astronomia? Porque essa ciência possui uma particularidade única: a Astronomia engloba muitas outras ciências, transformando-se no mais interdisciplinar de todos os ramos do conhecimento humano.
Por meio da Astronomia podemos falar de Física, Matemática, Química ou Biologia de forma natural, transitando por cada uma delas sem fronteiras, sem a separação em disciplinas que o ensino tradicional acaba determinando na percepção dos estudantes.
Isso acontece porque o objeto de estudo da Astronomia é o próprio Cosmos, ou seja, é tudo o que existe. Talvez seja (também) por isso que, hoje, os planetários não mostram mais apenas o céu estrelado. Pouco a pouco eles estão se transformando em “teatros de visualização digital”.
Se você visitar um deles, é possível que saia sem ter visto uma única constelação projetada na cúpula, mas tendo viajado ao tempo dos dinossauros, conhecido o mundo subaquático ou o estranho universo das células e das partículas ainda menores que as compõem. Entre inúmeras outras possibilidades.
Incomparável
O fato é que não importa se você visita as instalações de um moderno equipamento digital ou de um modelo “clássico”. O planetário é um aparelho didático-pedagógico incomparável e sua evolução tecnológica apenas consolida sua capacidade de percorrer tantas áreas do conhecimento humano, preenchendo lacunas da formação tradicional e, sobretudo, inspirando jovens e adultos na busca pelo saber.
O Brasil ainda está aprendendo a reconhecer o valor dos planetários. Apesar do primeiro deles ter sido inaugurado em 1957 – e de percebermos um notável acréscimo na última década, eles ainda são relativamente poucos e mal distribuídos. Assim como outros espaços para difusão do conhecimento científico e tecnológico.
A boa notícia é que isso está mudando. E se depender de nós, planetaristas (como são chamamos os que trabalham com Educação no ambiente dos planetários) não vai faltar vontade de continuar espalhando esse semente, há muito germinada nos países onde a Educação já transformou sociedades para melhor.
Texto de José Roberto V. Costa publicado na edição de estreia da revista Planetaria.