Moção de apoio da ABP à entrada do Brasil no ESO
(Processo MSC 40/2013)
Em Assembleia durante o XVIII Encontro da Associação Brasileira de Planetários (ABP), ocorrido entre os dias 22 e 26 de setembro de 2013, em Santo André (SP), foi redigida e aprovada esta moção de apoio da ABP à entrada de nosso país no European Southern Observatory (ESO), a mais produtiva organização intergovernamental da área que domina as observações astronômicas em terra.
Entendemos que a participação do Brasil nesse consórcio proporcionará um espetacular avanço no desenvolvimento da pesquisa acadêmica e da instrumentação científica em Astronomia, da prestação de serviços e da indústria relacionada à implementação de observatórios de nova geração e, principalmente, da popularização da ciência e da tecnologia.
Como Carl Sagan já apontava sobre a importância da alfabetização científica em seu livro “Bilhões e Bilhões”, vivemos em uma sociedade baseada na ciência e tecnologia, na qual a população considera como dispensável o conhecimento sobre ciência e tecnologia. Ciência é mais do que um corpo de conhecimento, é uma forma de pensar, necessária para a implementação da democracia. O analfabetismo científico leva ao risco de delegarmos a poucos as decisões, científicas ou não, bem como de sermos manipulados por argumentos pseudocientíficos.
Nesse sentido, não devemos apenas investir em mais cientistas melhores preparados, mas também aprofundar o entendimento público da ciência. E é o ensino e a divulgação científica que têm o papel decisivo ao levar para o conhecimento público aquele conhecimento produzido pelo desenvolvimento científico-tecnológico e vice-versa. Ghandi já colocava que o seu país era muito pobre para prescindir de pesquisa. Adicionaríamos que igualmente imprescindível é o acompanhamento dessa pesquisa pela sociedade.
A Astronomia está na linha de frente da ciência e da tecnologia, abordando questões transcendentais sobre nossa existência e o mundo em que vivemos bem como buscando continuamente novos instrumentos, processos e capacidades necessários para os desafios da pesquisa, cujas aplicações são inúmeras em inúmeras áreas: computadores pessoais, telefones celulares, painéis solares, imageamento por ressonância magnética e etc.
Por isso é reconhecido, inclusive pela União Astronômica Internacional (IAU), a importância do desenvolvimento da Astronomia como catalizador do desenvolvimento econômico e social de todas as nações. O plano estratégico da IAU para o decênio 2010-2020 está baseado em três áreas: tecnologia e capacidades; ciência e pesquisa; cultura e sociedade.
Os planetários e seus espaços adicionais, em seus diversos estilos e vinculações, são locais de divulgação científica por excelência. Espaços diferenciados onde talentos são atraidos e estimulados, questão que nosso país tem se preocupado. É necessária a aproximação desses espaços com o conhecimento atual da Astronomia, mostrando o fazer do astrônomo e os desafios atuais da área. A expansão das técnicas projetivas complementam as projeções do céu, dos planetas, do Sol, da Lua e das linhas principais que são as essências dos planetários tradicionais.
Entre as atividades de divulgação científica do ESO estão: site na Web; livros; livretos, cartões postais, documentos técnicos sobre o ESO e suas pesquisas; revistas científicas; vídeos em várias línguas (inclusive português brasileiro) com tours virtuais e imagens; exposições; visitações a suas instalações; projeto de um centro para visitantes; projeto de um observatório educativo; e projeto de um novo planetário que pretende inserir-se em um novo modelo de distribuição de dados que permitirá aos planetários a atualização diária de descobertas, dados e imagens obtidas no mundo por sondas e telescópios da NASA, ESO, Gemini, SOAR e etc, que poderão ser disponibilizados em segmentos ao estilo noticiário. Seria um “Portal do Universo” para planetários.
O ESO já está produzindo três programas para planetários, dois dos quais são: “À Busca de Nossas Origens Cósmicas” e “A Água: uma Aventura Cósmica”. Também disponibiliza 270 panoramas do mundo para ambientação de planetários.
O trabalho colaborativo com o ESO poderá elevar aquele realizado por nossos planetários para um patamar mais impactante, experiências que o público levará para sempre em suas vidas criando uma atitude pró-ativa com relação à Astronomia e à Ciência em geral. Por outro lado, a ABP representa uma rede de mais de setenta planetários brasileiros que apoiará as atividades do ESO.
As descobertas fascinantes sobre a natureza e o Universo que os astrônomos brasileiros participarão vão preencher as páginas de livros escolares, revistas populares, jornais e documentários. Em poucas gerações, a criatividade e a inovação serão ampliadas em nossa sociedade. Essa rede onde a ciência leva à produção de conhecimento e inovação inspirará toda a sociedade e só pode existir se ciência de alta qualidade for feita, ou seja, se ousarmos atacar problemas para os quais ainda não temos respostas, ou mesmo o melhor método para resolvê-los.
Isso é ciência de fronteira. E é isso que a ABP deseja para a nossa nação.
CartaApoioESO.pdf