Alexandre Cherman*
Uma das perguntas que ouço com mais frequência em meu dia-a-dia, lidando com o público, é: “como vocês sabem do que é feito uma estrela?â€
A Astronomia é a única ciência que não tem à sua disposição os seus objetos de estudo. Nunca fomos a uma estrela, nunca construÃmos uma em laboratório. Assim, acho mais do que justo que o público leigo nos indague algo deste tipo.
O segredo por trás de tudo chama-se espectroscopia. Este palavrão pode ser entendido como o estudo do espectro eletromagnético emitido por uma determinada fonte. A fonte, no caso, é a estrela que queremos entender. E o que é, afinal, o espectro eletromagnético?
Espectro eletromagnético é a reunião de todos os comprimentos de onda eletromagnética possÃveis. Há comprimentos de onda que são captados por nossos olhos. Este subconjunto do espectro é chamado de “luz visÃvelâ€, e é comumente explicado com uma imagem de um arco-Ãris. O espectro visÃvel abrange do vermelho (maior comprimento de onda) ao violeta (menor). Imediatamente após o vermelho, temos uma “cor†(comprimento de onda, na verdade) que nossos olhos não veem: é o infravermelho. Isso vale também para o violeta, que tem como “vizinho espectral†o ultravioleta.
Outras “cores†que nossos olhos não veem são, por exemplo, os raios-X, os raios gama, as ondas de rádio e TV e as microondas. As estrelas emitem em todas estas cores, ou melhor, em todos esses comprimentos de onda. E é analise do espectro estelar que nos permite saber do que elas são feitas.
Isso tem a ver, também, com a natureza da matéria. O modelo atômico que usamos ainda hoje é o do “átomo de Bohrâ€, que representa o átomo como sendo formado por um núcleo central, rodeado por elétrons que giram ao seu redor. O átomo não é exatamente isso, mas este modelo é bom o bastante para explicar os fenômenos observados…
Cada elemento quÃmico tem uma configuração de elétrons diferente. É isso que caracteriza um elemento quÃmico! Assim, cada elemento quÃmico funcionará como uma “peneira†única e inconfundÃvel para a radiação produzida dentro de uma estrela. Logo, ao estudarmos o espectro estelar, conseguimos descobrir quais as “peneiras†pelas quais aquela radiação passou e, portanto, sabemos quais os elementos quÃmicos que existem nas camadas externas daquela estrela.
E é assim que sabemos do que uma estrela é feita! A espectroscopia é um testemunho duradouro da inventividade humana!
Via Blog do Planetário do Rio.
*Alexandre Cherman é Astrônomo da Fundação Planetário da cidade do Rio de Janeiro e foi presidente da Associação Brasileira de Planetários.